“Quem quer dinheiroooo?”
É... para quem anda se dizendo cansado de ver o cinema brasileiro transformar marginais em heróis e querer jogar toda a culpa nas costas dos “homens de bem”, aqui vai a má notícia: esse olhar não é uma exclusividade tupiniquim! É impossível assistir a “Quem quer ser um milionário?” sem identificar familiaridades nas trajetórias dos personagens Jamal e Salim com a dupla Dadinho e Bené, ou mesmo Acerola e Laranjinha. Será que já estamos exportando a “estética da miséria” ou finalmente a Academia norte-americana deixou de ser impassível à “estática miséria” de 2/3 do mundo? Curioso é que essa mesma Academia fechara os olhos antes para o nosso “Cidade de Deus”. Claro, “O senhor dos anéis” era muito mais interessante!
Bem, de qualquer forma, o filme é maravilhoso e certamente convidará o espectador a reflexões mais profundas em relação aos valores que regem o mundo em que vivemos. Sem querer contar a história, mas não podendo fugir ao comentário, escolhi como emblemática a seguinte cena: O menino Jamal está trancado em um banheiro de madeira ao ar livre, tentando defecar por um buraco que fica no chão e por onde se despejam as fezes numa poça a alguns metros abaixo. Pela fresta, ele vê a chegada do maior ídolo do cinema indiano ao seu bairro. Com a foto do astro nas mãos, Jamal tenta arrombar a porta, mas não consegue. Decide, então, sair pelo mesmo buraco das fezes, mergulhando na poça e ficando com o corpo completamente sujo. Vendo-se “livre”, o menino corre para pedir-lhe um autógrafo. Obviamente, a multidão abre caminho para aquele serzinho escatológico, que, enfim, consegue alcançar sua meta.
Eis a síntese, não só do filme, mas do que é o casamento miséria/alienação no mundo globalizado: os pobres estão literalmente afundados nas fezes e dando pulos e mais pulos de alegria por existirem seus ídolos midiáticos, além da esperança de que a sorte grande possa sair do fundo baú da felicidade, livrando-os da marginalidade.
Márcio Hilário
(05/03/09)
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