“Claro que dirão que é política, que é subversão,
que é comunismo.
É evangelho de Cristo!”
(D. Hélder Câmara)
A frase que mais me incomodava e contra a qual mais lutei na minha militância pastoral era pronunciada pelos próprios membros da Igreja: “Não se pode misturar a fé com a política!”. Diziam isso para demarcar claramente os limites entre o sagrado e o profano e reafirmar uma série de dicotomias que as polarizavam qualitativamente: à fé caberia alimentar o espírito, enquanto à política pertenceria o domínio do corpo com todas as suas impurezas.
Essa postura, que pode ser em primeira instância ingênua ou alienada, acaba mesmo sendo perversa. Ela desconsidera o fato de que historicamente a Igreja enquanto instituição sempre esteve ao lado dos poderosos e de suas mais diversas formas de governar: abençoou os tiranos, ungiu os ditadores e benzeu os déspotas. Organizou ainda manifestações públicas, guiou as famílias nas marchas e, em nossa história recente, atacou a democracia, apoiando abertamente o golpe militar de 1964.
Seria correto afirmar, então, que a Igreja não se envolve em política? O que de fato ocorre é que ela não é contra a política em si, mas contra um certo tipo de política. Como diria D. Pedro Casaldáliga, existe a política de uns e a política de outros; a política a favor e a política contra. Sendo assim, o alheamento que se propõe ao não querer misturar fé e política é, na verdade, falso, porque, no fundo, ele representa a adoção de uma postura fundamentalmente política: qual seja, o conservadorismo. Afinal, se não se quer mudar é porque o que há está bom.
A ação política militante e a mística evangelizadora estão nas bases do cristianismo. Afinal – nas palavras de Frei Betto – Jesus não morreu de velhice deitado em uma cama e nem caiu do camelo e quebrou o pescoço, mas sim foi um preso político, vítima de tortura e assassinato por defender seus ideais de fé e de sociedade. E nos dias de hoje, como para podemos falar em nome do “Pai nosso” sem lutar para garantir a todo ser humano o “pão nosso”? Solidariedade é, pois, nesse sentido, combater intensamente a todo esse sistema que produz a miséria, a fome e a exclusão social. Ter fé é alimentar-se do espírito transformador e lutar diariamente por justiça. E isso é, antes de tudo, uma postura política. Enfim, frase por frase, eu sempre preferi aquela do Leonardo Boff que diz assim: “Sou marxista, porque sou cristão”.
Márcio Hilário
29-04-2011
Muito bom. Cristo era dos pobres, não dos ricos. Veio para os doentes, não para os sãos.
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