Não difícil perceber que o Rio de Janeiro está no auge das férias escolares. Na Zona Sul ou na Zona Oeste, as praias ficam lotadas de jovens e adolescentes sejam os dias úteis ou inúteis. Já na Zona Norte, as praças e os shoppings que acabam repletos de pequenos grupos juvenis andando pra lá e pra cá sem destino certo. Agora, nos subúrbios da cidade ou na minha velha e querida Baixada, o buraco é bem mais embaixo... ou melhor, em cima. É o tempo ideal para os adolescentes e suas incríveis engenhocas voadoras. É o tempo de pipas no alto.
Uma pipa é o mesmo que um papagaio, apesar de certos papagaios possuírem penas e mal hábito de contar piadas chulas. A estrutura da pipa é composta por duas varetas de bambu cruzadas a uma outra maior e principal, presas com linhas que também fazem a borda para que tudo seja encapado com papel fino colorido. Uma calda, ou rabiola – que é uma espécie de varal de pequenas tiras de papel amarradas lado a lado –, é presa à base da pipa, a fim de proporcionar peso e garantir estabilidade no vôo.
Aos olhos infantis, encanta o céu multicolorido entrecortado pelo vôo daqueles pequenos cometas de madeira e papel. Nesse quadro celeste, toda criança – mesmo que adulta – pode escrever livremente suas poesias aladas, deixando voar todo o lirismo que transborda do seu coração. Como pilotos de aviões de caça, disputam o céu em aventuras e batalhas que não produzem dor nem morte. Tudo é só beleza e fantasia.
Aos olhos adultos, é tempo de crianças desafiando o trânsito com uma imprudência suicida, pulando muros e invadindo casas em gritos frenéticos a incomodar o dia todo. Armadas com linhas cortantes, cheias de vidro moído e cola, são como assassinos em potencial armados e em busca de vítimas, motocicletas e antenas de televisão.
Cai a noite. Os adultos podem mergulhar tranquilamente na escuridão silenciosa de um mundo sem crianças barulhentas. As crianças podem deitar e dormir sonhando com uma manhã bem ensolarada e com muitas pipas no alto. E no confronto dessas duas visões de mundo seguem as férias suburbanas, que ainda teimam em resistir ao isolamento da modernidade, apesar da presença do vídeo-game.
Márcio Hilário
29/07/2011
Muito bom.....sempre morei em apartamento, mas nas férias ia muito para casa da minha tia que mrava no Catumbi. E era ali que eu brincava de bola de gude e soltava pipa.
ResponderExcluirCaraca, até lembrei que tb soltei pipa, hoje tenho verdadeiro medo de ver adultos sem noção da realidade batendo nos menores...Mas só de lembrar já to imaginado como será o dia de Cosme e Damião, rsrsrs. grande bj a todos os subúrbios do Rio e outras cidades deste mundão...
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