Uma típica cena suburbana desenhada por Jano.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Espelho, espelho... meu?

Modelo: coisa ou pessoa que serve de imagem, forma ou padrão a ser imitado, ou como fonte de inspiração; exemplo dado por uma pessoa, uma coisa, que possui determinadas características em mais alto grau; representante típico de uma categoria.
(Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa)
Nos versos de "Sampa", Caetano Veloso nos releva o estranhamento de quem chega a uma nova cidade, que em nada reflete a sua identidade: "Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto / Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto / É que Narciso acha feio do que não é espelho". E assim é: rejeitamos tudo aquilo que não nos é familiar ou o que não se identifica conosco. O novo é estranho.
Narciso encanta-se com sua própria beleza refletida no espelho. Sorte dele: era muito bonito e ainda tinha um espelho que funcionava, porque cumpria o seu papel de devolver à realidade aquilo que ela oferece. Azar o nosso: nem podemos saber se temos alguma beleza, já que nossos espelhos não nos refletem. E já que isso ocorre, somos nós quem temos de passar a refletir o que os nossos espelhos projetam em nós. Nessa lógica, deveria dizer Caetano que o espelho acha feio tudo o que não é Narciso.
Tristes somos nós: um povo mestiço que não consegue ver-se e reconhecer-se como tal. As grandes agências publicitárias e os meios de comunicação de massa ainda obedecem a mesma lógica da nossa colonização: índios são pitorescos, negros são mão-de-obra e brancos são o padrão. Folclore, feitiçaria, civilização. Mato, favela, mansão.
Se olharmos bem a fotografia, vemos um maravilhoso exemplo de ação afirmativa da identidade de um povo. Lada a lado com as "modelos" da civilização, o governo do Acre - merecedor da indiferança satíricas dos civilizados (?) do Sudeste - expõe para o seu povo a beleza que cada um traz em seu próprio rosto.
Deve ser bom poder ser o que se é.