Ainda cheio de sonhos e utopias, meu amigo mais parecia um recém-formado, apesar de já ter mais de dez anos de experiência. Recebeu o paciente e realizou atenciosamente uma pequena entrevista, tomando nota de cada mínimo detalhe. Em seguida, examinou-o minuciosamente: fez a medição da pressão arterial, auscutou o coração e os pulmões, checou a pulsação, analisou os olhos, verificou a garganta etc. Enfim, chegou a um diagnóstico e prescreveu uma dieta básica e alguns exercícios.
O paciente não seguiu a recomendação e o que é pior: acabou piorando. O médico tentou outra coisa: mudou a dieta e cortou alguns exercícios que exigiam um pouco mais de esforço. Quem sabe adaptando a prescrição à realidade do paciente, as coisas fiquem mais fáceis. Não funcionou. O paciente não fez nada do que lhe foi receitado. Já sabia o que fazer: substituir a dieta por remédios, assim o paciente não precisaria se preocupar em fazer dieta alguma. E também só deixou na lista os exercícios mais simplórios, só para não deixar o paciente sedentário. Resultado: zero.
Recorreu, enfim, ao método do doutor Patch Adams – aquele médico colocava nariz de palhaço e fazia graça para aliviar o sofrimento dos pacientes; virou até filme, interpretado por Robin Willians. Além do nariz vermelho, passou a usar um jaleco colorido, sapatos bem grandes, anteninhas e óculos de mola. O paciente adorou, achou graça de tudo e ficou certamente cheio de felicidade. Mais feliz e muito mais doente, porque, ao voltar para casa, continuou a não seguir as recomendações médicas.
Meu amigo me telefonou, perguntado o que deveria fazer agora. Já tinha tentado de tudo e o paciente só ia de mal a pior, parecia que nem se importava com a própria saúde. Assim ele iria morrer. Como seu médico, será ele seria responsabilizado por essa morte? Infelizmente, tive de dizer ao amigo que não poderia ajudá-lo em nada, no máximo ser solidário, até porque há alunos que adotam exatamente a mesma postura desse paciente, enquanto nós continuamos a usar pedagogicamente um nariz de palhaço. E para piorar, no nosso caso não resta a menor dúvida: a culpa é sempre do professor.
Márcio Hilário
30-03-2011