Se o tempo fosse apenas uma linha reta, como de fato é, e as coisas não pudessem mais se repetir, a cronologia amorosa brasileira seria uma verdadeira bagunça, já que ela tradicionalmente consagra maio como o mês das noivas e das mães e junho como o mês dos namorados e do casamenteiro Santo Antônio. Tentando organizar logicamente os elementos dessa narrativa, pensei em duas hipóteses. Na primeira, mães solteiras durante um mês tentariam de tudo e fariam até promessa para arrumar um casamento; Antônio prepararia o clima romântico do dia 12 e viria cobrar a fatura no dia 13. Na segunda, mais surrealista, a criança, logo após o parto, receberia da mãe um ultimato: Vamos cortar logo esse cordão umbilical, você tem um mês para arranjar um namorado, casar e sair de casa!
O que ocorre mesmo é que essas datas chegam à nossa cultura por muitos caminhos diferentes. Maio, por exemplo, é para a igreja católica o mês de consagração à Maria, que era mãe, casada e matrona da família mais famosa da história. Parece lógico, então, para a tradição religiosa, que as solteiras queiram apressar logo seu projeto matrimonial. Aliás, palavras curiosas: seria coincidência o fato de “matrimônio” ter a ver com mãe e casamento, enquanto “patrimônio” com pai e dinheiro? Pois bem, existe ainda quem acredite que o costume tem origens medievais, porque maio era o único período do ano em que se tomava um banhinho para as núpcias. Há quem diga que o buquê de flores era uma espécie de sachê para disfarçar o futum.
Já Santo Antônio – que eu achava que era padrinho de Jesus, porque sempre aparecia com o menino no colo – era um grande orador, apaziguava conflitos familiares e unia as pessoas e até os lugares – talvez por isso seja de Pádua, mesmo tendo nascido em Lisboa. Recebeu o título de casamenteiro por seus patrícios lusitanos e no Brasil furou o olho de São Valentim, roubando-lhe
o dia dos namorados, que no resto do mundo é comemorado em 14 de fevereiro. Diga-se de passagem, trazer o dia dos pombinhos para a véspera do dia do casamenteiro foi uma bela jogada comercial para aproveitar a popularidade da data e do santo. Loucas por um casamento, as mulheres costumam fazer toda a sorte de promessas e simpatias (eufemismo católico para o que nas outras religiões seria feitiçaria ou macumba!) e as pessoas gastam aos tubos com jantares e presentes.
De qualquer forma, o que importa é que os tempos realmente se sucedem, mas o calendário sempre se repete. É por isso que é possível organizar aquela narrativa inicial de outra maneira. Tudo começaria no dia dos namorados, quando o casal se conheceria e, sem que o cara percebesse, no dia seguinte, viria a pernada de Santo Antônio: a menina já marcaria o casório para maio do ano seguinte e de lá encomendaria à cegonha seu bilhete para celebrar de camarote o dia das mães no próximo ano. Seja como for, por via das dúvidas, eu, que sou da Baixada e não sou bagunça, no último dia 13 de junho, deixei minhas cuecas bem longe do varal e das imagens de Santo Antônio.
Márcio Hilário
17-06-2011