"Nada se mudaria; o regímen, sim, era possível, mas também se muda de roupa sem trocar de pele." (Machado de Assis, "Esaú e Jacó")
Todos os dias são iguais: o sol nasce e morre. Mesmo quando escondido atrás das nuvens, lá está ele a desfilar sobre as nossas cabeças. Tudo bem, alguns dirão que, na verdade, o sol está parado e que é a terra que gira. Mas o que importa saber isso quando os nossos olhos continuam nos dizendo que ele simplesmente vai? Mas volta...
Assim é: todos os dias são exatamente iguais. E o que faz com que, mesmo sendo tão iguais, nós os tenhamos tão diferentes? Não é só o que fazemos deles, mas como os experimentamos. E aí está o discurso da forma.
Os seres humanos sentem. De fato, todos os seres humanos sentem muito e tudo. Uma pessoa de rua não tem menos ciúme de sua companheira do que teria o namorado de uma grande "top model". Se um poeta romântico recita versos ou um seresteiro canta à luz da lua, um menino dá um puxão de cabelo, mas todos querem simplesmente amar.
O coelhinho que se faz com guache, um dia vira prova e só vai crescendo e mudando de nome: monografia, dissertação, tese, livro. O troninho é o neto vaso sanitário. A música lenta dos bailes, que já foi valsa de salão, hoje é dançada até o chão. E os relacionamentos... seguem a mesma lógica desde Adão e Eva!!!
Mas, apesar de toda essa profunda igualdade, é a diferença que constrói a magia de viver. Por isso, mesmo que no fundo saibamos o que nos espera no fim, jamais saberemos como será o durante. A forma que se imprime em um dia não se aplica a outro. Ou, parafraseando de Thiago de Melo, se novo não pode ser o caminho, novo será o jeito de caminhar.