"A gente não quer só comida
a gente quer comida, diversão e arte".
(“Comida”, Arnaldo Antunes)
Quem não se lembra dessa fábula? Enquanto as formiguinhas pensavam no futuro e trabalhavam, estocando comida para o inverno, a cigarra vivia a tocar e a cantar... toda irresponsável e inconsequente!!! Resultado: quando o inverno chegou, as formigas estavam aquecidas e fartas, ao passo que a cigarra morria de frio e de fome. Moral da história: primeiro vem a obrigação, depois a diversão!
Mas, onde está a verdadeira moral por trás dessa história na infantil?
A supervalorização do mundo do trabalho e da ideologia burguesa é o grande fator moralizante da trama, já que, para essa lógica sistêmica, importa acumular bens no presente, para poder desfrutá-los no futuro (será?). Dentro dessa perspectiva, ao indivíduo só resta a adequação ou a morte. Além disso, a arte está diretamente associada ao entretenimento, à diversão, o que, para essa leitura conservadora, significa perda de tempo. Sendo assim, ela vira elemento secundário, fruto da irresponsabilidade de quem não pensa no futuro e "vaga pela vida sem destino" (ou seja, um "vagabundo"!!!).
O pior disso tudo é que essa visão estereotipada papel da arte na sociedade não é uma exclusividade das formiguinhas: ela vai do aluno que diz que isso não cai não reprova ou não cai no vestibular, aos tecnocratas que não vêem objetivo prático ou valor ($) para algo tão imaterial.
Arte não é mercadoria, mas uma forma singular de ver o mundo, criando outros mundos.
Márcio Hilário.