Numa dessas conversas de quintal – certamente a continuação de alguma festa que começou no dia anterior e teimou em não acabar, é o que chamamos de enterro dos ossos! –, uma de minhas primas, aliás, essa também é uma característica elementar das família suburbanas, elas são enormes... mas então, em conversa que não se sabe por que entrou ou gerou o tópico da dificuldade de criar as novas gerações, uma de minhas primas personificou todas as suas queixas e lamentações em um personagem: o pipoqueiro. Segundo ela, aquele maldito homem tinha de ficar justo ali na porta da escola? Poxa, a criança vê o sujeito e, claro, enche o saco pra comprar a tal da pipoca! Isso é todo dia! Não tinha outro lugar pra esse mala ficar? Resposta dos ouvintes: gargalhada geral!
Ao ouvir o som da claque, meu primo, que estava dominicalmente deitado no sofá da sala e pestanejava diante da tevê, levantou-se e foi correndo fazer as devidas atualizações. E já devidamente atualizado – essas coisas correm ainda mais rápido do que notícia ruim –, ele decretou gaiatamente o seguinte veredito: Pode deixar! Na qualidade de padrinho, eu assumo a responsabilidade de resolver isso. Amanhã mesmo eu vou lá e quebro os dois braços do sujeito. Assim, ele não tem mais como girar a manivela da pipoqueira! Dito isso, o imponente orador encerrou seu pragmático discurso com uma sonora gargalhada, dando a deixa para a entrada do coro, que já rolava de tanto rir.
É desse jeito. Quando nos reunimos em um bom quintal, seja pequeno ou grande, ele corre o risco de se transformar em duas coisas: levantando os muros, vira hospício; erguendo uma lona, vira circo. Mas uma coisa é certa: se para os antropólogos, essa família não seria nada mais do que um microcosmos do nosso país, igual a outras tantas famílias brasileiras, isso é problemas deles. A minha é diferente e especial. Óbvio. Ela é a minha. Tão minha quanto aquela aldeia é do Fernando Pessoa e por isso tem o rio mais bonito. Com seus erros e acertos, suas qualidades e defeitos, a família é o que eu possuo de mais valioso, porque me ensinou todos os valores em que acredito e pelos quais luto diariamente... Ah! Por falar nisso, o pipoqueiro passa bem, tá? E eu espero que todos nós assumamos as nossas próprias responsabilidades ao invés de jogá-las nas costas dos outros, ok?
Márcio Hilário.
31-05-2011