O que não for para agora já não presta. Se não foi para ontem, amanhã já será tarde demais. Frases curtas, histórias curtas, memórias curtas, transas curtas, paixões curtas, vida... acabou! Até a velocidade demora, melhor é a velô! Assim somos nós em nossos dias cada vez menores. Tudo se tem em a cada vez menos tempo. E a cada vez, temos menos tempo para tudo. O pior é que a cada tempo temos cada vez menos vez em tudo.
Em crônica de 1855, o escritor José de Alencar, encantado com o desenvolvimento da imprensa nacional e com o surgimento das primeiras estradas de ferro, profetizou que a combinação da tipografia com o vapor fariam com que de seu gabinete um homem se comunicasse com um mundo de gente. Nossa! A possibilidade de um texto poder circular por campos abertos que vão para além das redondezas paroquiais é realmente incrível.
Fico pensando o que diria o romancista, então, se pudesse ter conhecido a nossa da rede mundial de computadores e visto realmente que um homem da sua casa pode estar interligado com o mundo inteiro. Imagino as possibilidades infinitas de trocas literárias que não passariam pela cabeça do escritor. Com um computador na mão e uma conexão de banda larga, Alencar ficaria literalmente igual a um pinto no lixo! Será?
Infelizmente, é provável que seus textos tivessem a mesma quantidade de leitores que têm hoje. Afinal, diga-se de passagem, toda a sua obra já está bem disponível na rede. O problema é que pouca gente a lê. Alencar, então, ficaria triste, mas não creio que o fruto de sua tristeza fosse o fato de não ter sido “add” por ninguém. Creio que o motivo que levaria o escritor à depressão seria o seguinte: como, tendo um meio tão poderoso de comunicação, essas pessoas preferem escrever tolices e futilidades?
A isso, responderia um internauta: L! Outro completaria em miguxês: ahrzdrklasdj!!! E o mais metido a culto decretaria: É uma questão de tempo! Não dá pra perder tempo! Precisamos de objetividade! Ir direto ao ponto! Alencar, então, que sempre gostou de uma polêmica bateria assim: Tempo é uma questão de prioridade. Na minha época, tudo era manuscrito e nem por isso deixei de ler e escrever muito todos os dias. Eu também não tinha tempo a perder. Ao contrário, queria era vencê-lo. Por isso, tornei-me eterno, enquanto a vocês cabe apenas a fugacidade do instante!
E eu... se estivesse nesse chat... diria algo não tão profundo, mas que os internautas pudessem entender: aaaaaaaiiiiiii! tomaaaa! rs.
Márcio Hilário
30-08-2011