Espanta-me a
ignorância das pessoas a respeito do que seja arte e mais ainda o seu descaso em
relação ao patrimônio histórico-cultural da nação. Carlos Drummond de Andrade
que o diga. Talvez como numa forma de homenagem à mineirice do nosso célebre
autor do poema “A bunda, que engraçada”, sua estátua foi colocada de costas
para o mar de Copacabana, mas de frente para o calçadão. Ainda assim, o poeta não
devia achar a menor graça quando suas vistas ficavam constantemente embaçadas
pelo vandalismo daqueles que lhe arrancavam os óculos da cara. Que absurdo!
A estátua de
Zumbi dos Palmares, na Av. Presidente Vargas, vira e mexe amanhece pichada de
branco, quem sabe por algum fã desconsolado de Michael Jackson. Noel Rosa, em
Vila Isabel, é regularmente surpreendido com mais alguns copos e garrafas na sua
mesa: o Seu garçom já não aceita mais a pidureta! Em Niterói, Arariboia já faz
cara de mau para não lhe roubarem a tanga e o colar – únicos pertences que lhe
restaram. Em Duque de Caxias, o Pacificador, com medo dos crackudos do centro
da cidade, tentou fugir pela Linha Vermelha, mas ficou preso com seu cavalo no
engarrafamento da Rodovia Washington Luís.
Aliás, como todos
sabem, Duque de Caxias é minha terra natal. E, neste natal, pude observar que o
prefeito não re-re-eleito teve uma ideia maravilhosa para eternizar seu nome na história do município. Imagino que inspirado pelo artista plástico Vik Muniz,
nosso belicoso governante solicitou à população que acumulasse o máximo de lixo
possível em suas casas, ruas, esquinas, parques, praças, avenidas etc. Sua
imagem seria maior do que o próprio Cristo Redentor e poderia ser vista até
mesmo do teleférico do Alemão. Seria o luxo do lixo. Nem Joãozinho Trinta
poderia ter pensado em tamanha apoteose.
No entanto, como
eu disse antes, a população nada entende de arte e menos ainda de preservação
do patrimônio. Ninguém soube tratar do lixo com dignidade e poucos foram capazes
de resistir ao mau cheiro em nome da beleza artística. Somente as crianças em
sua inocência souberam aproveitar bem o lixo do prefeito, brincando de
esconde-esconde atrás dos monturos. Os adultos, demonstrando toda a sua ignorância
estética, atearam fogo à matéria-prima da grande obra do mestre, o que
praticamente inviabilizava a conclusão do projeto. E a imagem do prefeito, que
fim vai levar? - perguntei eu. Ao que me responderam: - Esperamos que
definitivamente morra nas cinzas e nunca mais renasça! É... pensei: Fazer o quê? Se é a vontade do povo, que assim seja!
Márcio Hilário
28-12-2-2012
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