Uma típica cena suburbana desenhada por Jano.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Para quem não tem nada, a metade é o dobro



Ditados populares sempre me irritaram um pouco. A chamada sabença do povo nunca foi imune aos preconceitos que se enraizaram nas culturas. Muito pelo contrário, as massas sempre funcionam como vetores de uma ideologia que, invariavelmente, agiu contra elas próprias. Sendo assim, nem sempre é a melhor verdade a verdade que o povo diz. Quer dizer, o povo espelha perfeitamente aquilo que está ao seu redor, o que não significa que analise criticamente e bem todas as suas implicações. Falta-lhe talvez algum distanciamento para entender como aquilo se insere em um contexto maior.

Analisando carinhosamente o título desta nossa crônica, veremos um exemplo dessa lógica perversa dos ditos populares. É a dança das cadeiras: parou a música, as qualidades trocam de lugar até que no fim, só restará algo bom. Claro! Considerando uma perspectiva binária na qual o polo oposto é sempre o péssimo, o ruim naturalmente pode se converter em excelente. Afinal, qualquer coisa é melhor do que nada. Ou não é?

Somem-se a isso algumas outras máximas. Ninguém é perfeito. É errando que se aprende. Dos males o menor. Mais vale um pássaro na mão do que dois voando. Em tempo de guerra urubu vira frango. Pra quem tem fome, guardanapo é bolo. Quem não tem cão caça com (ou como?) gato. É ou não é? Não! Não é! Gatinhos não latem! Comer um pacote de guardanapo dá indigestão! O urubu não é mascote do Atlético Mineiro! Para de show: dos males o menor? Tá bom, o crime não se torna mais leve quando o assassino usa uma arma de baixo calibre! Há erros que não têm conserto, meu caro! Não ser perfeito, tudo bem, mas não dá pra erra sempre, né?

Se é verdade que as coisas poderiam ser bem piores do que são, é igualmente verdadeiro que elas poderiam ser bem melhores também. Só que não é por isso, então, que devemos inverter a tabela e achar que tudo afinal é uma droga. As coisas simplesmente são o que são e devem ser vistas assim. Ao fim, ao cabo, dialeticamente precisamos ver os pontos positivos e negativos, reconhecer os acertos, mas denunciar os erros, buscando melhorar sempre. Não dá pra aceitar metade de nada como se fosse tudo. Metade é metade. É pouco, é pedaço. Como aprendi nas canções das comunidades eclesiais de base, “Deus criou o infinito para a vida ser sempre mais!”. 

Márcio Hilário
19-03-2013

2 comentários:

  1. Pra quem não tem nada, metade é o fundo do poço!

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  2. Pra quem não tem nada, nada à dizer tbem (pq não é possível)

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